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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

NA MIRA DE PAULO RICARDO


NA MIRA DE PAULO RICARDO



Nove entre dez mulheres que viveram nos anos 1980 eram histéricas por Paulo Ricardo, então baixista e vocalista da banda RPM, junto de Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo Pagni (bateria). O grupo foi um dos maiores fenômenos do rock brasileiro, chegando a vender em torno de 2,5 milhões de cópias.




Aos 48 anos, o cantor continua arrancando suspiros. A pegada rock- ’n’roll e a sensualidade da voz tensionada ainda são suas principais características. Enquanto conversava com o Dia-a-Dia Revista, não parava de dedilhar seu violão. Talvez um porto seguro para lidar com esta repórter que o interrogava sem ter vivido o frisson que a canção Olhar 43 provocou 25 anos atrás.



Aliás, vivi sim outra febre adolescente. A do Paulo Ricardo na pele de cantor latino em 1997, lançando o álbum O Amor me Escolheu. A carreira romântica em nada lembrava o rock engajado e foi marcada por apresentações em programas de auditório, hits pegajosos, shows com roupas cafonérrimas e lançamentos de disco para 36 países de língua hispânica.” Coloquei minha formação de pop e rock à disposição da MPB. Quis unir dois Brasis: o popular, dos programas de auditório e o dos endinheirados, que passam as férias na Disney e têm acesso à informação. Sofri e sofro muito preconceito por conta disso”, desabafa o cantor.
 
Essa incursão pela MPB originou também o projeto que está para sair do forno. Um CD com Toquinho com canções de Vinicius de Moraes. O álbum que reúne o rock e a voz de Paulo Ricardo encontrou harmonia com o violão de Toquinho e a aura das letras atemporais do grande poeta brasileiro.


VIVA VINICIUS



Paulo Ricardo deixa para trás todo o idealismo de canções como Alvorada Voraz para se render à doçura da poesia de Vinicius de Moraes. O encontro do intérprete com as letras do poetinha ocorreu quando decidiu mudar de ares e fazer um mix de rock e MPB.
Vasculhou e encontrou a canção de 1964 Só Me Fez Bem, de Vinicius de Moraes e Edu Lobo. ”Uma letra incrível, uma joia de concisão e profundidade. Essa música me deixou com a ideia de um dia gravar um disco só baseado nas letras de Vinicius com seus parceiros.”



Em 2001, Paulo Ricardo participou de projeto do Multishow chamado Olha Que Coisa Mais Linda, tributo a Tom Jobim, quando regravou Insensatez, também com toque de música eletrônica e orquestra. Em 2006, nos 50 anos da Bossa Nova, gravou disco acústico em inglês, o Accoustic Live, e convidou Toquinho para interpretar Corcovado, fazendo duetos com ele em inglês e português. ”Quando senti que estava na hora de preparar esse projeto de Vinicius, a primeira pessoa que chamei foi Toquinho, para saber se participaria de uma faixa ou outra. Eles trabalharam dez anos e têm centenas de composições juntos. Toquinho topou fazer o disco todo”, conta animado.

O projeto começou em 2008 e foi concluído agora. O resultado é muito equilíbrio entre a pegada roqueira de Paulo Ricardo, o delicado violão de Toquinho e a força de clássicos que todo mundo conhece dentro de uma mesma proposta. A ideia é ter um segundo CD com remixes. É um repertório internacional e o mundo todo gosta dessas canções, que já foram regravadas em várias línguas, como Garota de Ipanema, Chega de Saudade, Eu Sei Que Vou Te Amar, Canto de Ossanha e Samba da Bênção.




”Queremos mostrar para o pessoal da balada que essas músicas são incríveis, eternas, brasileiras e, ao mesmo tempo internacionais. É parte importante da iniciativa esse segundo CD com as canções remixadas para pistas de dança. É um projeto voltado totalmente para jovens.”



Em 2013 será comemorado o centenário de nascimento de Vinicius de Moraes. Sua obra é apreciada por pelo menos três gerações. O foco da dupla é mostrar como a personalidade, o moral e a visão poética não envelheceram, diferentemente de técnicas de gravação e formas de disseminação do som. A previsão é de que o disco seja lançado ainda neste ano, após acordo com parceiros comerciais.
 
 
 
O CD ESTA MORRENDO
 
O grande astro pop da época do vinil aprendeu a se adaptar aos novos tempos. Ele reconhece que os formatos digitais são predominantes nos fones de ouvido e já adaptou suas criações para download. ”O CD já está agonizando, como aconteceu com o vinil. O estimulante para o artista é o fato de poder fazer uma canção e já disponibilizá-la. Você não precisa daquele trabalho de meses, de fazer um disco inteiro”, revela.




Foi assim que os hits Linda Demais e Matar ou Morrer – que fez para o filme da Rota, com Andréas Kisser saíram direto do estúdio para os MP3 players dos fãs.



Paulo Ricardo não é pioneiro nessa empreitada e fala que o trabalho musical na internet tem feito a cabeça de muitos músicos. Fim do monopólio de grandes gravadoras, o artista tornase dono de seu trabalho e licencia os álbuns para as gravadoras por períodos determinados. De 2004 para cá, todos os CDs são dele, ou seja, produzidos por ele e licenciados para uma gravadora cuidar da distribuição e do marketing por três anos. Seus três últimos CDs – Zum Zum (2004), Accoustic Live (2006) e Prisma (2007) – estão disponíveis em versões on-line e em CD.



Novas canções dependem de acordos com sites, já que o brasileiro, infelizmente, ainda não pode baixar músicas pelo Itunes, a maior loja virtual do mundo, porque o Brasil detém recordes de pirataria.
 
 
 
RÁDIO PIRATA




Em 1985, Paulo Ricardo defendia a pirataria nas ondas do rádio. Era o que ecoava pelo ar com a canção Rádio Pirata, que na época soava mais como aspiração juvenil do que comercial. O refrão cantado pelos roqueiros rebeldes era justificado pelo fato de reclamarem que suas músicas não tocavam nas grandes emissoras. Antes do sucesso, é claro.



A pirataria de CDs é que não é justificada pelo cantor, embora concorde que o preço baixo é o grande motor que impulsiona o comércio informal. Paulo Ricardo diz que é possível fazer CD mais barato e até cita artistas que oferecem discos encartados em revista, como suvenires em shows ou disponibilizados gratuitamente pela internet. A banda Radiohead, por exemplo, apresentou um CD no site oficial e deixou a critério do consumidor avaliar quanto o trabalho valia. A grande maioria pagou o preço de um CD, entre US$ 10 e US$ 15. ”É uma questão ampla de quanto se gastou para isso. É claro que um CD feito em casa não consume o mesmo que um gravado com banda, orquestra, num grande estúdio e mixado lá fora. As coisas custam dinheiro”, completa.



Paulo Ricardo adora citar grandes músicos e, para ilustrar essa questão, recorre aos Beatles. Diz que quando os quatro garotos de Liverpool se separaram, Paul McCartney cobrava US$ 1 a mais que todo mundo pelos discos dele. ”Sempre foi mais caro porque ele era o Paul McCartney e ponto. Quem quisesse comprar comprava, quem achava que não valia a pena, que comprasse o dos Stones. As coisas têm preço. Se esses preços são justos, são critérios muito subjetivos.”



Uma questão que tira o cantor do sério é a da ética. Paulo Ricardo sentese frustrado por ter de competir com máfias de drogas, jogos e tráfico de armas para oferecer seu produto aos fãs. ”Por que eles não aproveitam e vendem também drogas e armas? Eu acho que é a mesma coisa. É óbvio que há rede enorme de corrupção e basicamente é crime. Se eu disser que tudo bem, dentro desse princípio, fica tudo muito flexível. Você pode andar na rua, vir um molequinho e roubar sua carteira, afinal de contas, ele está precisando e você acabou de receber. A lei é: se o produto pirata é crime, então, o problema é da Justiça.” Para ele, a melhor solução é fazer com que a indústria se proteja tecnologicamente contra as cópias ilegais.



A troca de arquivos entre amigos é a solução que Paulo Ricardo remeteu do tempo das fitas cassetes e que lhe parece muito viável. Um download de fã de algum disco importado, que nunca sairia no Brasil, segundo ele, não prejudicaria a venda de grandes artistas. ”Mas a partir do momento que tem uma fábrica chinesa de centenas de milhares de CDs para comércio ilegal, não há aí nenhum amor à música. É um business ilícito como outro qualquer, como a falsificação de bebidas, enfim. Não dá pra concordar com isso sob nenhum ponto de vista.”
 
 
 
NOS TEMPOS DO RPM
 
 
A banda surgiu em 1984, quando o então estudante de Jornalismo retornou de temporada em Londres.
O grupo underground foi um dos que mais venderam discos no rock nacional. Sucessos como Rádio Pirata, Olhar 43, Louras Geladas, Alvorada Voraz e A Cruz e a Espada eram cantados pelos fãs no auge dos discos Revoluções Por Minuto e Rádio Pirata ao Vivo.
O declínio veio com o álbum Quatro Coiotes, que foi mal recebido pela crítica e pelo público. O fim do grupo foi anunciado em 1989. ”Minha geração dependia de contrato com uma grande gravadora para poder produzir um disco. Ninguém tinha fábrica de vinil em casa. Hoje em dia, qualquer moleque de 8 anos vai lá, bota um programinha de gravação no computador de casa, grava seu disquinho, imprime uma capinha e dá de presente para quem quiser.”



Aliás, foi assim também que começou a carreira do astro Elvis Presley. Ele foi a uma gravadora pedir compacto de sua canção para dar à mãe como presente de aniversário. Isso tudo para ilustrar que agora a internet tornou-se grande vitrine para bandas musicais. ”A informação fica mais pulverizada, tem muito mais coisas para se ver. É muito melhor que meia dúzia de grandes corporações detendo todo o poder. Acredito no talento acima de tudo e acho que se os Beatles chegassem agora ao Myspace, You Tube ou Twitter, iriam arrebentar do mesmo jeito. Só chegam ao topo as coisas que realmente tiverem valor.”



A nova safra de cantores apresentados ao mundo pela rede mundial de computadores não trouxe legítimos representantes do rock. Pelo menos para Paulo Ricardo, que não se rendeu ao apelo dos conjuntos musicais adolescentes com roupas coloridas. ”O rock hoje não representa mais o que representou para a minha geração. Ao longo do tempo, o gênero ficou associado a um tipo de coisa jovem (ele faz aspas com os dedos ao dizer jovem), que diluiu e tirou a consistência da mensagem. Ficou associado àquele universo meio ingenuozinho, alegrinho, e trabalhando muito com aquela fase histérica que a gente passa na adolescência” – leiam-se críticas a bandas adolescentes como Restart e Cine. Críticos mais ferozes ousam dizer que o tripé que sustenta a loucura juvenil com sexo, drogas e rock’n’roll foi substituído por masturbação, Smirnoff Ice e Restart.



A juventude ainda ouve Beatles e Rollings Stones, como ele faz questão de frisar, e afirma que as novas bandas buscam referência nos clássicos. Para fãs que procuram uma boa letra, o cantor indica canções de MPB. E quem procura sonoridade vai encontrar na música eletrônica ou no hip-hop.
 
 
DOIS BRASIS
 
Foi encantado por essas composições que Paulo Ricardo uniu a MPB à sua bagagem de pop rock e ampliou as fronteiras da sonoridade, como gosta de definir. No fim da década de 1990, compôs com Herbert Viana, Jorge Israel, Michael Sulivan e José Miguel Wisnik, e gravou Adriana Calcanhoto, Roberto Carlos e Vinicius de Moraes. A empreitada foi das mais favoráveis comercialmente, chegou a render meio milhão de cópias, e levou sua voz para toda a América Latina com o álbum La Cruz Y La Espada.



Ele revela que, no momento em que se propôs a enveredar por outros ares que não eram exatamente os do pop rock – sua zona de conforto à frente da banda RPM –, sentiu o preconceito por parte do antigo público. ”Achei que por meio da música eu conseguiria aproximar o mundo da classe média alta com o dos programas de auditório, das rádios populares. Mas na prática existe uma barreira social.”


Os três discos pop românticos que projetaram Paulo Ricardo à época foram O Amor Me Escolheu (1997), Amor de Verdade (1999) e Paulo Ricardo (2000). Ele mesmo atribui o Paulo Ricardo romântico a um personagem que criou. O cantor das multidões sumiu em 2002, num retiro onde também abandonou as drogas.


Trilhar novamente o caminho do rock não foi fácil. Em carreira solo, tentando voltar à cena pop, ele chegou a tocar para público de pouco mais de 60 pessoas e com a mesma vibração de quem fazia diante de uma multidão. Agora é esperar para ver qual será a reação ao ver um Paulo Ricardo ao lado de Toquinho cantando Vinicius.
 
 
Por hoje é só.....
 
(Colaboradora pela matéria, minha querida e estima amiga Raquel.)
 
 
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